Não existe jornada sem aprendizado, mas é preciso estar disposto a ver e aprender. E eu me percebo como um eterno aprendiz! Ao longo dos últimos sete anos, fortaleci a minha carreira empreendedora também facilitando o empreendedorismo social periférico, em especial por meio de projetos desenvolvidos pela Economia de Comunhão e diversas organizações parceiras. Uma jornada emocionante, cheia de propósito e a certeza de que é possível frutificar talentos e conectar vulnerabilidades e oportunidades. 

Certa vez, estava no interior do Ceará, numa comunidade rural repleta de jovens. Eles viam muitos amigos da mesma faixa de idade se mudando para o sudeste do país por falta de oportunidades na comunidade. Cheguei para facilitar uma oficina de fomento ao empreendedorismo. Dentre os jovens, estava um rapaz, recém-casado, desempregado, que havia feito um curso para cabeleireiro e não encontrava apoio, nem na esposa, para iniciar um empreendimento e aplicar o que aprendeu. Ele ousou, fez o curso e pude ver de perto um homem com vontade de mudar a própria realidade. Após aquela formação, encontrou estratégias, acreditou ainda mais em si, abriu o salão na própria comunidade e encontrou espaço para sustentar a si e a família.  

Experiências como essas foram sendo somadas e eu fui percebendo o quanto a resiliência, ou melhor, a teimosia de querer mudar a própria realidade, beneficiando a si e a comunidade onde se vive, é presente em pessoas de diversas localidades do país. Em meio à pandemia, fui convidado a facilitar um acompanhamento, via internet, de pessoas de uma comunidade em situação de vulnerabilidade na cidade de Salvador (Bahia). Lá, mesmo à distância, pude encontrar (sim, tivemos encontros cheios de vida!) muitas pessoas talentosas, mas algumas que “não olhavam nem para si”. 

A exemplo de uma empreendedora, mãe solo, que fazia salgados e havia muito tempo que não se olhava nem no espelho. Eu não sabia dessa postura dela, mas a certo momento convidei os participantes, em um dos encontros online, para que todos pudessem ir ao espelho mais próximo, se olhar nos olhos e reforçar algumas palavras de amor-próprio. Ao voltar do exercício, ela compartilhou que teve a coragem de se olhar depois de muito tempo. A partir daquele dia, uma nova porta se abriu e uma série de outros acontecimentos fizeram desta mulher uma empreendedora, que tem estimulado o amor-próprio e a autovalorização em várias outras mulheres da comunidade.

Outra experiência de amplo aprendizado aconteceu em Manaus (Amazonas). Facilitei uma oficina de empreendedorismo para mais de 30 mães empreendedoras, moradoras de um bairro marcado por situações de vulnerabilidade socioeconômica, dentre elas estavam mulheres com diversas realidades desafiadoras. A certo momento, durante a oficina, uma delas compartilhou que trabalhava como manicure há mais de cinco anos, mas estava perdendo o gosto por aquele trabalho e aquela oficina havia reacendido nela a satisfação em trabalhar naquela área. Em outro momento, uma das participantes, uma cantora famosa na Venezuela que imigrou para o Brasil, mostrou que estava encontrando estratégias para empreender aqui no país, mesmo estando ela sem fama e recursos, em uma nova pátria. 

Olhando para essa jornada, vejo que aprendi muito, me tornei mais disposto a ver a grandeza que existe na construção diária da vida de tantas pessoas e que o conhecimento, o tempo, recursos compartilhados geram frutos que fazem com que vidas e comunidades percebam que possuem talentos e que podem ser agentes de mudança dentro de si e onde vivem. 

Por Rodrigo Apolinário – empreendedor e assessor técnico da economia de comunhão no Brasil.

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