A ANPECOM entrevistou a fundadora da plataforma Nobis, que conecta clientes com prestadores de serviço. Claudia Coser viveu na pele uma experiência de desemprego e pela empatia com quem vive essa dificuldade projetou um aplicativo de impacto social para gerar renda por meio de serviços. Confira.
 

Como surgiu a Nobis?

Claudia Coser – Sempre fui professora universitária e trabalhei em instituições de ensino por quase 20 anos na área de organizações, estratégia, colaboração. Mas quando saí de licença maternidade do segundo filho, no meu regresso eles me demitiram.
Eu era referencia na área de estratégia, governança de rede, tinha publicações internacionais… Meu mundo caiu! Entrei em um processo degradante que foi o da depressão. Por quase dois anos fiquei em um estado depressivo e não consegui lidar com tudo isso.
Conto a minha história para as pessoas entenderem que empreendedor é de carne e osso.
No entanto, em função da depressão, agucei algo que não sabia que tinha: um olhar com mais empatia para com o outro, justamente aquele que estava em uma condição muito parecida com a minha: o desempregado, semianalfabeto ou doutor. Percebi que estávamos todos no mesmo barco.
Foi nesse contexto de observação do desemprego que projetei a Nobis.
 

O que quer dizer Nobis e do que se trata a empresa?

Coser  –  Nobis, em latim, significa nós, nosso. Quando pensei a Nobis, pensei nas pessoas, em uma necessidade da sociedade, e na tecnologia como facilitadora disso. Por isso, a Nobis não é tecnológica. É uma plataforma, mas uma plataforma de pessoas. Quando pensei nela para conectar clientes com prestadores de serviço, me centrei no sujeito que precisava trabalhar e em como fortalecer a economia desse sujeito mesmo fora do emprego.
Lido com a perspectiva de “trabalhabilidade” e não de empregabilidade. O nosso propósito é promover a geração de renda pelo trabalho em serviços.
 

E qual é o diferencial da Nobis?

Coser – Criei um espaço tecnológico, mas também um ambiente de comunidade para dizer às pessoas: “você não está sozinho! Existem pessoas, empresas, um grupo que quer ajudar a fazer com que você se sinta dentro de uma comunidade”.
Assim, exploramos a capacidade de colaboração que pode ser gerada dentro da rede.
E como fazemos isso? Oferecemos gratuidade. Rompi com a ideia de que a plataforma tem que controlar os serviços que as pessoas prestam. A relação não é mediada por nós.
Um exemplo em nossa concorrência: a pessoa precisa de um serviço de diarista e a plataforma procura pela diarista, que por sua vez paga para ser indicada.
Na Nobis, o cliente procura a diarista por proximidade, avaliação e ele entra em contato com essas pessoas.
Rompemos também com a lógica de cobrança de percentuais de serviços prestados. Em outras plataformas, as pessoas ficam com todo o ônus e a plataforma ainda retém um percentual. Na Nobis não. Permitimos que as pessoas façam cobranças do jeito que acharem melhor. Podem fazer permutas, negociar ou também cobrar pelo aplicativo (aí tem as taxas usuais).
Então, cliente não paga, prestador de serviço tem gratuidade de até 5 solicitações de serviço. E por que fazemos assim? Para ajudar as pessoas, para que consigam começar a trabalhar.
Depois que começam a utilizar e ser remuneradas, temos um pacote de até R$15 reais por mês por até 30 solicitações de serviço e R$ 35 por mês para solicitações ilimitadas.
 

E como a Nobis monetiza?

Coser – Vamos ganhar dinheiro quando tivermos uma certa quantidade de pessoas no aplicativo.
Mas monetizamos também na produção de indicadores e estatísticas de geoprocessamento de serviços. Produzimos relatórios dessas milhares de pessoas cadastradas, quais são as dificuldades, onde se localizam. E essas informações que vão para governos locais, empresas privadas.
Só ressalto que eu não vendo dados privados das pessoas, é ilegal, é antiético. É um conjunto de dados extraídos da inteligência da plataforma.
Outra forma de remuneração que estamos lançando em outubro é a parte de formação das pessoas, o learning. É de interesse da empresa que os profissionais sejam qualificados para a técnica de alguns produtos. Essa terceira via é colaborativa, mas envolve monetização de fortalecimento. Ou seja, é bom para as empresas que querem acessar essas pessoas, mas assim elas acessam de maneira construtiva, que é pela aprendizagem.
Esse é o meu lema: se nós escolhemos as pessoas como o foco do nosso negócio e principalmente as pessoas em vulnerabilidade, nós só ganharemos quando a cadeia toda para trás, quando o último da fila, lá de trás, estiver se monetizando. Porque aí temos um ciclo sustentável de crescimento.
 

Então podemos dizer que a Nobis é uma empresa de impacto social?

Coser – Sim! A Nobis é um negócio de impacto social. Trabalhamos com 10 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e em setembro recebemos o selo ODS.
O nosso negócio inverte a lógica de competição para colaboração.
 

Mesmo que sejam ótimos diferenciais, ainda assim existem empresas concorrentes, não é mesmo?

Coser – Se observarmos por uma perspectiva competitiva agressiva, tenho pelo menos uns 10 concorrentes. Mas se eu te falar que eu trabalho por propósito, e é por isso que a gente trabalha – e o nosso propósito é promover a geração de renda pelo trabalho em serviços – e se os outros não trabalham com esse propósito, eles não são vistos como meus concorrentes.
Tenho entrado em contato com os concorrentes, inclusive. Chego com disponibilidade para compartilhar, para fazer coisas junto. Todas as plataformas de captação de currículos percebem que existem mil currículos para uma vaga. Da base, você consegue alocar no máximo 3%. O que se faz com esse contingente todo? Com esses contatos com concorrentes já consegui que uma das plataformas de currículo seja integrada dentro do aplicativo da Nobis.
 

Você pode compartilhar alguns dados da empresa com a gente?

Coser – Temos 900 serviços de A a Z na plataforma: casa, evento, pesquisa, palestra, saúde, etc. E cerca de 9 mil prestadores de serviço disponíveis.
E dentro desse contingente temos pessoas com formação semianalfabeta, até pós doutores. Fico feliz de conseguir quebrar isso. O setor de tecnologia segmenta, mas eu misturei grego com troiano e mais um pouco.
A minha plataforma é inclusiva, plural e vou fazer em todos os termos. Ela é pra quem tem, pra quem não tem, pra quem é formado, pra quem não é. Exploramos essas interações. Então tem gente de todos os níveis, de todas as áreas.
E essa pluralidade tem chamado a atenção lá de fora. Pra você ter uma ideia, temos uma empresa da África do Sul que quer levar a Nobis para Joahanesburgo. É como a semente da mostarda, se você conserva o DNA do que você deseja para o mundo no seu negócio, é uma questão de perseverança.
 

Você tem um contato com a Economia de Comunhão, não é verdade? O que pensa sobre a EdC?

Coser – Há uns 3 anos conheci a EdC aqui em Curtiba em alguns eventos. Comecei a participar e perceber que o que eu escrevia academicamente e meu trabalho pela empresa tinha muita sintonia com essa lógica: uma perspectiva mais colaborativa, cooperativa, essencialmente humana, na qual se rompe com a lógica mais competitiva, agressiva, que o mundo propõe no mundo empresarial.
 
 

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