O evento reuniu 117 pessoas, entre os dias 31 de maio e 1º de junho, para trocas de conhecimento e experiência sobre o tema “Bem Viver Amazônico: Diálogo, Espiritualidade e Resiliência Econômica”.
Com o propósito de integrar espiritualidade e desenvolvimento socioeconômico ambiental pelo bem viver de todas as pessoas na Amazônia a partir da valorização dos saberes ancestrais, o Projeto Amazônia Viva ciclo III realizou o Banzeiro 2025, ao lado da Maloca Ecumência e Inter-Religiosa, no Centro Mariápolis Glória, em Benevides (PA), entre os dias 31 de maio e 1º de junho.
Para a gestora do projeto e facilitadora de processo de florescimento humano da Economia de Comunhão (edc), Maria Clézia Pinto, essa versão do Banzeiro teve um toque de diálogo ecumênico e inter-religioso, que levou à reflexão de que espiritualidade é movimento.
“Percebemos o quanto a espiritualidade pode ser integradora e estar ao nosso lado para reaprendermos a viver na lógica coletiva, ajudando-nos a sustentar a barra de ‘gostar de viver’.”
O Banzeiro contou com momentos imersivos na floresta, envolvendo espiritualidade e meio ambiente, momentos intensos de diálogo e trocas de experiências, além de oficinas que rondaram o tema “Bem Viver Amazônico: Diálogo, Espiritualidade e Resiliência Econômica”.
Raissa Tuyanne de Almeida, copresidente da Economia de Comunhão (edc), destaca que o Banzeiro foi uma oportunidade crucial para fortalecer a conexão com a rede de agentes nacionais e internacionais que apoiam a iniciativa Amazônia Viva.
“Para a edc, o Amazônia Viva é pioneiro na discussão da crise climática. Enxergamos uma ligação cada vez mais forte e crucial entre essa pauta, o combate à pobreza e o desenvolvimento de novas formas de fazer negócios, algo que a edc já vem praticando.”
Caminhos percorridos

O Banzeiro foi precedido por uma experiência marcante: o projeto “Arama: uma partícula do futuro”, da associação Outra Economia. A iniciativa reuniu dez lideranças do Norte do Brasil para construir uma visão coletiva de futuros justos, com foco no acesso à terra, moradia e propriedade, a partir de suas vivências e promoção da justiça.
O projeto culminará em um manifesto e integrará uma exposição “artivista” em conferências globais no Brasil em 2025. As produções artísticas do encontro expressam sonhos e impulsionam novos imaginários. No círculo da região Norte, as palavras “fortalecimento” e “acolhimento” foram unânimes entre os participantes.
Raiana Lira, gerente de Programas da Outra Economia, destacou a relevância da parceria com a edc. “Essa parceria foi super importante para localizar e convidar essas lideranças, além de viabilizar momentos de aprofundamento e descanso mediante as distâncias percorridas para participar do projeto”.
Banzeiro 2025 e a força da comunidade

O primeiro dia do Banzeiro, 31 de maio, começou com um Banho de Floresta, guiado por Juscelio Pantoja, Coordenador do Centro Alternativo de Cultura (Centro social da Rede de Promoção de Justiça Socioambiental dos Jesuítas do Brasil), e apoiado por Turi Omonibo, liderança quilombola, afro-religiosa e afro-indígena do Território Quilombola de Abacatal (PA).

Em seguida, os participantes mergulharam no estudo do Paneiro, um documento da edc que entrelaça e transporta ideias sobre economia, Justiça Climática e espiritualidade, os pilares da atuação do projeto Amazônia Viva. O momento foi coordenado pelo Professor Cleber Maurício de Lima, da Universidade Federal de Rondônia e representante da Rede Amazonizar, de Porto Velho (RO), focado na cartilha como ferramenta para lideranças comunitárias.
Na parte da tarde, Maria Clézia, da edc, e Charles Alberto , da Maloca, apresentaram a proposta do Banzeiro. O Prof. Cleber conduziu um momento de oração inter-religiosa pela humanidade, seguido por um círculo de trocas facilitado por Débora Rocha, gestora programática da edc, utilizando a Metodologia Aquário.
Entre os participantes desse diálogo estavam: Juscelio Pantoja (REPAM) que apresentou perspectivas da COP 30, Raissa Tuyanne (edc Brasil) sobre a atuação da edc pelo Bem Viver Amazônico, Turi Omonibo e o Pastor Antônio Victor (Comunidade Evangélica Hesed e Rede Amazonizar), que compartilhou sobre espiritualidade e gestão empresarial.
“Senti comunhão, partilha, conexão. Essa energia espiritual profunda nos ajuda a superar os desafios da falta de diálogo, oferecendo acolhimento e escuta”, compartilhou o Pastor Antônio Victor.

A temática da resiliência climática foi apresentada por Raiana. Já o Reverendo Iuri Lima, da Comunidade Anglicana de Manaus e Rede Amazonizar, contribuiu com reflexões sobre o diálogo ecumênico e inter-religioso.
Um relato que marcou a tarde foi o da família Borges, com as filhas Elis e Maitê Nunes, autoras dos livros “Criança presa no mundo das telas” e “A criança que fazia muitos atos de amor”. Segundo Maria Clézia, essa experiência demonstra que todos podemos ser agentes de mudança. “O protagonismo para transformar o mundo pode começar dentro de casa”, comentou. O professor Cleber também ampliou o debate com a perspectiva da flora frutífera e dos animais na vida urbana amazônica.
Ao final do dia, os participantes se dividiram em oficinas práticas:
- Espiritualidade Ecossistêmica: com Raiana Lira.
- Cuidando de Quem Cuida: com Maria Clézia.
- Paneiro e Juventude: com Professor Cleber.
- Economia e Espiritualidade Amazônica: com Pastor Antônio Victor e Revdo Iuri.
- Cuidando da Vida: em nós e na terra: com Natália Dalmácio.
“Participei do Banzeiro pela primeira vez e foi uma experiência muito especial. O grupo era diverso, o que traz desafios, mas também grandes aprendizados”, compartilhou a facilitadora Natália. Felipe, de Maracanã (PA), destacou que a oficina foi um “mergulho interior, um reencontro consigo, com Deus e com o outro”, resultando em mais consciência sobre o consumo, trabalho e vida.
O primeiro dia encerrou com uma roda de partilhas sobre espiritualidade e empreendedorismo, e os aprendizados do evento. As respostas foram potentes: “Garantia de um futuro sem perder vidas, sendo humanas ou não humanas”, “Estão interligados e precisam ser mais respeitados” e “Tudo na nossa vida está conectado: comigo, com o outro, com a natureza”.
Início da Semana de Oração pela Unidade Cristã

O segundo dia, 1º de junho, começou com uma celebração especial pela Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Benevides, um gesto de fraternidade e respeito mútuo.
O encontro foi finalizado com uma reunião de lideranças para prospectar novos caminhos e futuros possíveis para o Bem Viver Amazônico em suas comunidades.(não aconteceu)
Agradecemos a cada pessoa que construiu este Banzeiro conosco, à Maloca Ecumênica e Inter-Religiosa, e aos parceiros e apoiadores: Outra Economia, REPAM Brasil e Rede Amazonizar, Movimento dos Focolares e Jovens Por Um Mundo Unido.