Imersão em comunidade ribeirinha do baixo Rio Negro marca primeiro dia do Fórum Socioeconômico Ambiental Amazônia Viva

Fórum Socioeconômico Ambiental Amazônia Viva conectou as agendas da economia, fé e Justiça Climática na Amazônia, entre os dias 05 e 06 de abril.

Da Balsa Verde de Manaus, um grupo bem diverso de cerca de 40 pessoas, de múltiplas regiões do Brasil, embarcou em uma viagem pelo grandioso Rio Negro, por cerca de 1h30, até a comunidade ribeirinha de Arara. A imersão nessa comunidade tradicional fez parte da programação do primeiro dia do Fórum Socioeconômico Ambiental Amazônia Viva.

O grupo foi calorosamente recebido por seu Domingos, dona Rosa e seu Raimundo, lideranças comunitárias de Arara. Quando pedimos licença para entrar na comunidade, seu Domingos respondeu: “Somos todos brasileiros e essa é a nossa terra. Sejam bem-vindos”. Uma fala simples e potente que representa a generosidade desse povo.

Comunidade de Arara, no baixo Rio Negro

Após um delicioso café da manhã regional, seguiu-se um momento de escuta junto à comunidade. Em suas falas, a exaltação da floresta, do Rio Negro e das suas tradições, e as inúmeras dificuldades que enfrentam: falta de emprego, ineficiência dos equipamentos públicos de saúde e educação, isolamento por causa da seca e da pandemia.

Em 2023, a região enfrentou sua pior seca histórica. Comunidades inteiras ficaram isoladas, comprometendo a subsistência, o transporte e a alimentação dos povos tradicionais. Uma realidade crua e amarga dos efeitos das mudanças climáticas e suas consequências sobre as pessoas mais vulnerabilizadas, e que enfatiza a necessidade de ação por Justiça Climática.

“É de arrepiar saber que este ano promete ter uma seca pior ainda do que a do ano passado e ver de perto o impacto das mudanças climáticas nos guardiões da floresta. Ano vai e ano vem e esse ciclo de sofrimento não vai mudar enquanto nossa economia continuar operando à base da criação de escassez artificial”, destacou Marina Gattás, co-diretora da Outra Economia.

Na questão da educação, por exemplo, a escola a qual as crianças têm acesso não possui o Ensino Médio, forçando a juventude da comunidade a se mudar para continuar os estudos ou apenas a interrompê-los. “Durante a pandemia ficamos completamente isolados. A comida até chegou por uma organização, mas remédios, não”, comentou dona Rosa. E Cidinho, mateiro da comunidade acrescentou: “Todo mundo diz que aqui é um paraíso e é mesmo, mas hoje conseguimos mostrar um pouquinho da nossa cultura e das nossas dificuldades aqui em Arara”.

Essa roda de conversa significou muito para os participantes da imersão que prontamente se colocaram em uma atitude de escuta e de aprendizado.

“São saberes diferentes. “Vocês me fizeram sentir mais brasileiro. E esse benefício não vai parar só em mim. Espero que todos possam levar mais desse Brasil que vocês cuidam, protegem, vivem, de uma forma harmônica. Nós, lá na cidade, não sabemos o que é isso. Vocês nos ensinaram muito. Espero que seja a primeira visita de muitas outras. E saibam que saímos daqui transformados”, ressaltou Rodrigo Gaspar, co-diretor executivo do Sistema B Brasil, organização parceira do projeto, e um dos integrantes do grupo.

Após o diálogo, o mateiro Cidinho levou o grupo pela mata até o roçado da comunidade, de onde tiram o sustento para sua sobrevivência. Pelo caminho, apresentou ao grupo diversas plantas com propriedades medicinais e com usos diversos para os povos tradicionais. E explicou como as secas e as cheias do Rio influenciam na dinâmica da comunidade, no território e no transporte.

A comunidade preparou um almoço saboroso para o grupo, com pato, frango, tambaqui assado, suco de cupuaçu, dentre outras delícias regionais. E mais uma vez, formou-se uma roda de conversa para mais um momento de troca e agradecimentos. “Hoje o dia foi maravilhoso com a presença de vocês. Agradeço muito a presença de todos na nossa comunidade. Peço que voltem sempre e não esqueçam de nós”, disse dona Rosa.

Esse dia de imersão aconteceu em estreita relação com a Rede Ecumênica Amazonizar, representada especialmente pelo Reverendo Iuri Lima, que acompanha a comunidade. Um claro exemplo de como muitas comunidades de fé têm capilaridade e credibilidade em territórios amazônicos e cultivam o respeito à cultura, promovendo caminhos de acesso e oportunidades.  “Tivemos ricos momentos de diálogo, de encontro e de aprofundamento com as raízes amazônicas. E agora, convidamos todas as pessoas a fazer o mesmo”, concluiu o reverendo.

Depois, o grupo fez uma breve parada na comunidade Baixote, também ribeirinha.

“Digo que saímos levando muito conhecimento daqui. Um conhecimento que vocês têm e compartilham. Viemos, ficamos em casa, aprendemos e agora vamos levar para todo o Brasil. E reforço, não deixem de reparar o quanto vocês sabem, o quanto são potência, o quanto existe riqueza e possibilidades aqui também. Vamos ecoar isso e fazer com que essa comunhão aconteça.”, comentou Rodrigo Apolinário, coordenador de projetos da Economia de Comunhão.