Para as manchetes de jornal, Beiru/Tancredo Neves é a 10ª maior favela do Brasil (IBGE, 2022). Um território marcado por desigualdades sociais e pelo racismo. Para a Economia de Comunhão (edc), é uma comunidade pulsante, criativa e empreendedora que, não obstante todos os desafios socioeconômicos, representa uma história de resistência e uma força identitária.
É junto a essa comunidade que a edc desenvolve a terceira edição do Programa de Formação de Empreendedores – Profor Beiru Vive, em parceria técnica com o Instituto Aliança. A iniciativa tem como objetivo incubar 12 empreendimentos de impacto social geridos por pessoas empreendedoras do território.
Toda a base programática é permeada pelos valores de fraternidade, comunhão e florescimento humano da edc. “Na prática, caminhamos ao lado dessas pessoas oferecendo conhecimentos e ferramentas voltadas à gestão de negócios, com uma metodologia que sempre conecta técnica e propósito“, explica Joice Araújo, gestora do Profor.

Identidade Empreendedora
Para Cláudia Cerqueira, empreendedora e participante do programa, é preciso conhecer o lugar onde vive para ser protagonista de mudanças.
“O Beiru, antes de ser Tancredo Neves, é um território de memória negra. Quando reconheço essa história, percebo que ela também é minha. Sou a primeira da minha família a abrir um negócio na comunidade e assumir a identidade de empreendedora.”
O percurso formativo teve início em abril e até o momento já cumpriu fases importantes. Na primeira etapa, o Instituto Aliança (IA) realizou um diagnóstico dos empreendimentos e das pessoas empreendedoras considerando dimensões pessoais, sociais, produtivas e gerenciais. “Esse processo possibilitou uma devolutiva individualizada, com a identificação de potencialidades e aspectos que merecem maior atenção e investimento”, comentou Mariah Oliveira, consultora em Educação do IA.
Depois, seguiram-se dois encontros sobre Design Thinking voltados à experimentação de novas ideias, ao enfrentamento de desafios e à criação de soluções inovadoras para os negócios; um encontro sobre aspectos jurídicos das empresas; e dois encontros sobre gestão, cultura e mercado, que promoveram reflexões sobre cultura empreendedora, competências essenciais e estratégias de comunicação.

Florescimento Humano
Todas essas ferramentas, somadas às Oficinas de Florescimento Humano que abordaram questões profundas como emoções, autoconhecimento, talentos e propósito, já mostram transformações pessoais e coletivas junto às pessoas.
Larissa Santos, empreendedora e participante do Profor, conta:
“O Profor me ensinou que empreender vai além de gerar renda. É resgatar a autoestima, fortalecer o pertencimento e transformar a dor em propósito. Ao valorizar nossa cultura, podemos reescrever a imagem da comunidade e mostrar que dela brotam vida, criatividade e esperança.”
Os participantes formaram uma rede colaborativa a partir do programa e agora trocam experiências, aprendizados e se apoiam mutuamente. “A cada encontro, sentimos a força coletiva florescer”, disse Maria Clézia Pinto, facilitadora de processos da edc.
Após esses primeiros meses e algumas etapas cumpridas, os empreendedores e as empreendedoras já elaboraram uma primeira versão do Plano de Negócios das suas empresas e receberam quatro assessorias individuais.
“Já observamos avanços importantes como a adoção de instrumentos de gestão apresentados no Caderno da Pessoa Empreendedora, promovendo maior organização financeira e administrativa”, relata Mariah. A consultora também conta que alguns participantes renegociaram dívidas e formalizaram novos empreendimentos, abrindo caminhos para maior sustentabilidade e autonomia.
Nos próximos meses, o projeto segue avançando com oficinas de marketing digital, aperfeiçoamento dos planos de negócio e gestão contábil.
Essas ações seguem até dezembro de 2025. Com mais desenvolvimento local e protagonismo das pessoas empreendedoras, o Profor Beiru Vive espera contribuir com uma comunidade cada vez mais autônoma e vibrante.

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