O Fórum Nacional da Economia de Comunhão (edc) finalizou sua 9ª edição em 2025 deixando um forte sentimento de continuidade. Entre pessoas empreendedoras, acadêmicas, participantes de projetos sociais, jovens, dentre outros perfis, o evento reuniu 220 participantes e propôs reflexões sobre como viver a cultura da edc nos negócios e nas comunidades com o objetivo de transformar vidas.
O evento aconteceu nos dias 25 e 26 de julho no Centro de Eventos Mariápolis Ginetta, em Vargem Grande Paulista, e teve como tema: “Trabalhar em comunhão: uma cultura que transforma vidas.”
A programação combinou reflexões conceituais com experiências reais de quem já coloca a cultura da edc em prática. Também houve momentos artísticos, de convivência e de conexões entre participantes, além de apresentação de trabalhos acadêmicos dos jovens que participaram da Escola Internacional de Economia de Comunhão que antecedeu o Fórum.
Mudança cultural

Rodolfo Leibholz subiu ao palco para falar sobre propósito. Ao relembrar sua trajetória profissional como engenheiro e empresário, ressaltou a importância de alinhar o propósito interior com suas expressões no mundo. “O propósito exterior é a manifestação do que está dentro de nós”, afirmou.
Ainda jovem, ao ingressar no mercado de trabalho, percebeu que o ambiente era movido pela lógica da competição. “Ou você vinha para vencer, ou para guerrear. Comecei a questionar essa cultura.” Aos poucos senti que meu propósito era fazer uma mudança cultural no mundo do trabalho.” Pioneiro da edc no Brasil, Rodolfo teve sua história registrada em livro, publicado no ano passado.
A filósofa e médica da família, Erika Nocera, buscou na filosofia alguns ensinamentos sobre o trabalho para inspirar os participantes do Fórum. “O trabalho não foi sonhado para ser individualista. Talvez o sentido do trabalho seja para o conjunto da humanidade”.

Este sentido coletivo e proposital do trabalho ecoa também na vida comunitária. Por isso, além da rede empresarial, o Fórum amplificou as vozes de lideranças de comunidades participantes dos projetos de cunho socioambiental da edc. Para a ribeirinha e educadora popular Yane Alves, do Lago de Acajatuba (AM), a Economia de Comunhão dá nome e força ao que as comunidades já praticam: a solidariedade. “A edc me inspira a olhar para o outro com empatia, a transformar a minha vivência e a não aceitar que a desigualdade seja normal”.
Andréia Lima, de Salvador, é participante do Programa de Superação da Vulnerabilidade Econômica, o Supera, da Economia de Comunhão. No Fórum da edc, Andreia, que é mãe de seis filhos, um portador de deficiência, relatou como enfrentou a condição do filho que chegou a ser internado dez vezes. O Supera chegou em um momento desafiador de sua vida pessoal, trazendo alento e cuidado com sua própria saúde mental e emocional.
Do bem-estar ao bem-viver
Este cuidado com o bem-viver de cada pessoa, que vai além do olhar financeiro, é um dos pilares da Economia de Comunhão e foi abordado por Herivelto Dias, especialista no desenvolvimento de lideranças intermediárias. Ao resgatar uma linha do tempo, apresentou a possível mudança de paradigma de uma cultura das coisas, na qual a empresa se preocupa em dar os melhores benefícios, salários e bem-estar, para uma cultura do bem-viver, na qual vale, a presença, a plenitude, a abundância e a prosperidade. “A Economia começa nos corações humanos”, completou.
Diogo Steinbach e Thaís Matos, respectivamente Diretor Executivo e Supervisora Administrativa da Hogar Empreendimentos Imobiliários, uma empresa edc de Palhoça (SC), trouxeram para o palco exemplos de uma cultura guiada pelo propósito e orientada ao bem-viver.
“Desde que entrei na Hogar tive a sensação de que poderia ser mãe e profissional na mesma proporção, senti que era um lugar diferente”, contou Matos. Após descobrir que a cultura da edc sustentava os princípios da empresa, ela abraçou a causa e esteve ao lado de Steinbach quando o quadro de colaboradores cresceu e veio a necessidade de expandir essa cultura às pessoas que chegaram.
Em uma parceria com a Anpecom, nasceu o programa Conexões Bem-Viver e Trabalho, implementado a partir da metodologia de Florescimento Humano em Economia de Comunhão. O Programa buscou despertar em cada colaborador o autoconhecimento e a conexão de suas funções com as suas paixões.
Uma empresa que vive a edc envolve também toda a comunidade ao entorno. “A forma que encontramos de levar a cultura de edc para comunidade foi pelo projeto Alicerce que Transforma. É um projeto social que leva empoderamento para mulheres em vulnerabilidade social. “Não é uma ação para captar mão de obra. É para que elas reconheçam o valor que já têm”, completa Matos.
Além da relação com os colaboradores e com a comunidade, a Hogar também contou como se manteve correta em uma negociação com um agente público. “Como empresa de edc, de nada adianta colocar o cliente acima de tudo se exploro as pessoas, sonego impostos, etc. Ser edc é estar preocupado com cada uma dessas relações com stakeholders, é insistir muito mais em uma pessoa do que o mercado insistiria, é olhar para as pessoas em sua maior profundidade”, finalizou Steinbach.

Essa extensão da cultura de edc que transborda o ambiente corporativo foi o tema do painel “A importância social da empresa”, conduzido pelo fundador da Ezpedio Consciência e Desenvolvimento Humano, Eduardo Frosini. “Qual é a importância social de uma empresa? Servir à vida. Fazer com que todos realizem o seu potencial. Depois, com essa dedicação e desenvolvimento interno estendemos para toda a rede de valor da empresa. Isso não pode ser diferente com meu fornecedor, com o cliente, com o governo”, disse.
Colaboração por mais impacto positivo
Após a fala de Jomery Nery, presidente da edc, sobre como a colaboração pode potencializar exponencialmente o impacto positivo, duas participantes trouxeram um exemplo emocionante.

Patrícia Fassa, empreendedora do Rio de Janeiro e conselheira da Anpecom, recebeu por alguns dias Ana Júlia Garcia, jovem ribeirinha e estudante de fotografia do projeto Amazônia Viva. Ana Júlia teve seu primeiro contato com a fotografia em uma oficina da edc, e, graças à iniciativa, pôde estagiar na produtora de Fassa.
Mais que um estágio, foi uma vivência transformadora: Ana Júlia conheceu o mar, conviveu com a família da empreendedora e mergulhou no universo do empreendedorismo. Tudo isso foi possível a partir da generosidade de Patrícia, que compartilhou tempo, recursos e a própria vida com a estudante em uma expressão concreta do que significa comunhão.
O vídeo que elas gravaram sobre essa vivência pode ser visto aqui.
O Fórum 2025 foi encerrado com a apresentação dos dados de impacto da edc em 2024 e com o lançamento da Campanha Comunhão e Ação 2025: um convite para que mais pessoas, organizações e comunidades se unam à Economia de Comunhão por um mundo mais justo, regenerativo e fraterno .
