Análise escrita por Clézia Pinto, facilitadora dos projetos de Florescimento Humano em comunidade em situação de vulnerabilidades.

“Se for flor, florescerá”, é um dito popular muito usado por aqui e inspirado na botânica. Pois bem, guardemos essa expressão.

 As pessoas são sempre pessoas quer se encontrem em situação de vulnerabilidade ou não. Todos temos valores e expectativas internas, possuímos talentos e habilidades independente de nossas histórias. Talentos que germinam, espontaneamente à medida que acordamos para nossa verdadeira identidade. E, para florescer, é preciso trabalhar com as emoções positivas + engajamento + relações positivas+ significado+ realizações.

Algumas histórias de vida são facilitadas pelas oportunidades e privilégios que se apresentaram ao longo do percurso, outras são plenas de desafios que, às vezes, são ampliados, ainda mais, pela condição de vulnerabilidade na qual vive o (a) protagonista de uma dada história.

Projetos de Florescimento Humano

Mas, espere um momento. Pense em uma semente colocada em um solo fértil com a quantidade adequada de terra sobre ela, que recebe luz, calor e água na quantidade e nas horas adequadas…. Agora, imagine essa mesma semente em solo árido, denso, terra compactada e com uma quantidade de terra exagerada sobre ela. Quase nada de luz, calor insuficiente e raridade de água.

Esse é o contexto da segunda semente. A probabilidade de ela florescer é amplamente dificultada…

Mas todo e qualquer ser humano tem um valor inestimável e deve estar no mesmo patamar de importância e dignidade, sempre e em qualquer circunstância.  Foi com essa consciência, que os líderes da economia de comunhão, resolveram desenvolver no Brasil, uma incubadora de negócios, de base comunitária (PROFOR), e programas de apoio ao empreendedorismo cujo público participante se encontra, quase que, na sua maioria, nas periferias dos centros urbanos ou nas comunidades de povos originários, ribeirinhos, e alguns em contextos rurais.

Convictos de que a vida não deve ser valorizada apenas porque as pessoas podem produzir bens materiais e prestar serviços, e nem a vida de uma pessoa vale mais que a de outra  fizeram uma escolha lúcida ao estruturar a metodologia:   desenvolver os pontos fortes das pessoas que se envolveriam nessas iniciativas e não olhar somente para os danos que o trajeto da existência pode ter causado, porque tão importante quanto fortalecer as iniciativas econômicas,  os negócios, é apoiar as pessoas que as sustentam para que floresçam na sua plenitude.

Os desenhos e a experimentação desses processos de florescimento humano, no âmbito da economia de comunhão, levam sempre em consideração três dimensões: as necessidades humanas, os sentimentos, as forças.

Segundo Roberto Ziemer (Do Medo à Confiança- p.128 – Editora Gente), são sete   os níveis de consciência presentes nos humanos, ninguém excluído (a), e cada um desses níveis estão conectados às dimensões descritas acima.  

NIVEIS CONSCIÊNCIA NECESSIDADE HUMANA SENTIMENTO FORÇAS
7⁰ Sabedoria Espirituais Confiança Espirituais
6⁰ Interdependência Espirituais Confiança Espirituais
5⁰ vocação Espirituais Confiança Espirituais
4⁰ Transformação Mental Transição Auto realização
3⁰ Auto estima Emocional Medo Psicológicas
2⁰ Relacionamento Emocional Medo Sociais
1⁰ Sobrevivência Sobrevivência Medo Instintivas

Como imaginar que alguém deseje alcançar o nível da sabedoria atendendo a uma necessidade espiritual se se encontra no estágio de consciência e de necessidade que grita sobrevivência? 

A força instintiva é a” mandante” do próprio estar e se mover no mundo. 

E é essa densa ‘camada de terra’, da necessidade de sobrevivência, somada ao sentimento do medo constituem um obstáculo para a semente florescer. 

Trata-se de um desafio, mas não de um impedimento.

Ter um nível de consciência de autoestima consistente é fundamental para um equilíbrio emocional, para minimizar o medo e colocar a força psicológica em ação. E é aqui que mora a oportunidade.

O primeiro trabalho que se faz nos processos de florescimento humano: refletir sobre quem sou, qual o meu melhor, como posso prosperar, o que o mundo espera de mim, qual os próximos passos preciso dar?  Qual o significado do que faço? E sempre com muita, muita interação. 

Se o autoconhecimento é um processo solitário, mas fundamental, a autoeducação é complementar e determinante e é quando precisamos da presença de outros(as).

A expressão dessas descobertas individuais e coletivas acontece de uma forma muito lúdica: com cores, tintas, massinhas de modelar, pinturas em carvão e com pouco, mas super necessários momentos de escrita. Foco em questões bem profundas, mas com abordagem leve.   

E assim, alternando momentos de música, poesias, apreciações, observações de uma planta, técnicas de aterramento e centramento, facilitamos a passagem de um degrau para outro mais acima em relação ao nível de consciência, respeitando os tempos de cada um (a). 

Uma caminhada conjunta, curta e intensa. Com a possibilidade de se chegar a descobrir quais habilidades e talentos cada um (a) possui, e até o ponto de ser capaz de reconhecer as suas próprias forças internas e fraquezas. 

O “autoconhecimento é a principal forma de evitar uma invasão no seu sistema” diz Harari.

E, se temos pouco conhecimento de nós mesmos, nossas atuações serão influenciadas, fatalmente, pelo medo, provocando motivações rasas como a ganância, a inveja, a raiva ou o orgulho. E, nesse terreno, ninguém é capaz de florescer, jamais.

Nesse momento sensível e delicado é feito o convite e desenvolvidas práticas que permitem não ver tão-só os estragos que o fluxo da vida pode ter determinado, e nem é o momento de corrigir falhas e apontar problemas, mas é a hora de identificar as potências que trazemos para o mundo, é a hora de usar a inteligência social. 

As práticas propostas permitem o contato com as emoções positivas, com o cultivo das relações saudáveis que desaguam em engajamento, significado e propósito de vida enfim, permitem realizações pessoais.

Aspirar e exercitar a transformação, às vezes, pode desviar a pessoa para um período de crise – ao examinar os alicerces da própria identidade pessoal e profissional, mas, é precisamente nessa situação de conflito, que pode despontar a verdadeira vocação.

Vocação – em latim significa “voz” – competência de ouvir e conjeturar sobre as verdades e os valores armazenados no próprio íntimo(ser) – capaz de escutar uma voz interior, uma intuição – uma voz que convida a ser a pessoa que nascemos para ser. É um enigma que transcende nossa biografia e está além de todos os condicionamentos.

A vocação é um convite ou chamado para participarmos de forma criativa de uma história maior que se estende para além dos horizontes de nossa vida pessoal e na qual todos temos um papel importante a desempenhar: assumir o nosso lugar no mundo.”

Quando estamos no “modo” confiança e se busca a autorrealização, identidade verdadeira, um trabalho com significado, somos proativos e com responsabilidade, e se contribui para o bem comum, mesmo quem se encontra na inaceitável e desconfortável situação de vulnerabilidade.

Na questão, em análise, nos parece legítimo afirmar, pela nossa curta, mas sincera atuação em processos de desenvolvimento humano, em processos de ampliação da consciência:  todas as pessoas com suas diversidades, cores e peculiaridades, e beleza, na essência, são como flores e, portanto, se são flores, florescerão.

Leia “Impactos da Pesquisa na Economia de Comunhão”, por Andreza Lucas.

 

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