Com as palavras que compõem este título, Maria Helena Faller (presidente da Associação Nacional por uma Economia de Comunhão – Anpecom), encerrou o primeiro dia do evento “Economia de Francisco: juntos por um novo pacto global”, movimento cultural e plural convocado pelo Papa Francisco que busca reunir e articular pessoas e organizações que desejam construir um sistema econômico mais justo, inclusivo e regenerativo. A agenda brasileira dos dias 19 e 20 de novembro foi elaborado em parceria com ICE (Instituto de Cidadania Empresarial) e Sistema B Brasil.
Todos os presentes na tarde de encontro online atenderam ao chamado do Papa Francisco, que tem denunciado o “estado patológico da economia mundial” e convidado a todos os que operam nas estruturas do sistema econômico e na cultura que o sustenta para uma redefinição do capitalismo vigente, de modo a considerar as pessoas e o planeta como centro do processo produtivo.
Com facilitação conduzida pela CoCriar, as cerca de 300 pessoas conectadas na plataforma Zoom foram recepcionadas com saudações das cincos regiões do Brasil. No momento de boas-vindas, Maria Helena introduziu o significado da Economia de Francisco, abordando a convocatória da Francisco em ter um pacto global comum, em que todos nós somos chamados a escutar nosso propósito interior. Além da importância de caminhar junto com outras instituições e religiões para realizar um impacto positivo no sistema econômico local, regional e global. Citou também uma das características centrais do Papa, em que ele se ocupa em denunciar as estruturas existentes que afetam a justiça social, sem esconder ou romantizar. E aponta a pandemia, como um acontecimento que fez com que esse movimento se estendesse de forma global, proporcionando uma expansão da Economia de Francisco pelo mundo todo.

“Estamos hoje em um ponto de chegada de um processo de construção com o ICE e Sistema B; e em um ponto de partida para novembro de 2021, com a esperança de que estaremos dando continuidade a esse debate em Assis. Nós Anpecom, ICE e Sistema B amamos e acreditamos naquilo que a gente faz; apostamos na mudança com atuação coletiva, compartilhada e gradual; investimos em nossa força de trabalho juntos”, comenta
Em uma fala emocionada, Maria Helena relembra a convocação do Papa em escutarmos a voz interior, “ousar transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo”. Resgata também parte das falas do Papa no encontro internacional, no qual ele questionou “o que queremos ressetar?
Na apresentação quando é citado a “Laudato Si”, é difundida uma compreensão de que todos nós somos um ecossistema, ou seja, tudo que acontece a alguém afeta também a minha realidade, independente do local.

Trajetórias e propósitos concretos e inspiradores

Logo após a abertura, Renata Nascimento, cofundadora e presidente do conselho do ICE, compartilhou sua experiência pessoal e causas institucionais.
“Há 40 anos, quando comecei na filantropia, me senti provocada a repensar uma economia com o propósito de diminuir a desigualdade em nosso país. Pra mim nunca fez sentido fazer transformação sozinha, sempre quis parceiros, em especial os que possuem valores que se conectem à uma economia para a evolução humana. Ao criar o ICE há 21 anos, o que nos uniu é o que nos une até hoje: o trabalho entre empresas e organizações para fomentar inclusão e desenvolvimento e diminuir desigualdades. Negócios devem ir além do lucro e do emprego. Os negócios precisam gerar impacto positivo. Por isso estamos nesse movimento da Economia de Francisco, porque queremos formar novas lideranças, fortalecer o ecossistema, propiciar evolução em um Brasil com vida digna e oportunidades, assim como é demonstrado no pacto proposto pelo Papa.”, relata Renata.
Dando sequência, Márcia Nascimento, diretora de articulação e comunicação institucional do Sistema B Brasil, faz uma síntese da sua missão e da organização que representa.
“O Sistema B quer construir empresas que não sejam as melhores do mundo e sim as melhores para o mundo. Dentro disso existe o direcionamento de dividir lucratividade entre as partes interessadas, implantando uma forma de gestão que eu acredito: mais inclusiva, com equidade e regenerativa. As mais de 3.600 empresas certificadas no planeta buscam associar lucro ao propósito, pilar do nosso movimento global Imperative 21, ou em português, “Redefina o Capitalismo”. A campanha inclui: criar interdependência e equilibrar relações entre governo, empresa e sociedade civil; investir em quebrar desigualdades estruturais – e eu, como mulher negra, sou exemplo de que isso é fundamental; e pensar em todas as partes interessadas, pois todas devem ser valorizadas na construção do lucro. Por tudo isso estamos com o Economia de Francisco, para criar um novo sistema econômico”, explica Márcia.

 
Retratos do Ecossistema de Impacto Social no Brasil
Após as falas inspiradoras das convidadas, Fernanda Bombardi, gerente executiva do ICE, mediou o rico painel composto por Julia Melo – diretora nacional da Amani Institute, Jean Santos – empreendedor social, e Ricardo Glass – investidor social. Cada um deles trouxe seu olhar e suas práticas dentro do universo do impacto social e suas conexões com o pacto proposto pelo Papa Francisco.
Para Julia Melo: “Carreira com sentido pra mim é a única opção. Em meu trabalho em uma organização intermediária não vejo outro caminho que não seja por meio de mudança sistêmica e atenção às complexidades, porque cada um faz parte desse ecossistema. E é preciso ter consciência do nosso papel, por isso busco muito autoconhecimento e ampliação da minha visão sistêmica. Faz muito sentido pra mim estar aqui, porque crio que precisamos ressignificar o capitalismo”.
Na leitura de Ricardo Glass: “Qual vida vale a pena ser vivida? Na minha, de economista, investidor e curioso, busco soluções para os problemas, uma das razões que me levou a atuar para um sistema econômico mais inclusivo. Geração de propriedade para toda a sociedade é usar o dinheiro para nutrir a economia que acredito, foi por isso que criei uma empresa B. Mesmo sabendo que impossível ser 100% coerente, eu quero investir onde há impacto positivo. O dinheiro está onde o dinheiro floresce; se colocar no lugar errado, cresce errado. Não sou cristão mas acredito muito nessa comunhão.”
E Jean Santos finaliza o painel com o relato de quem está na comunidade: “Me sinto rico por estar falando daqui da pobreza a todos vocês. Nessa minha realidade, na periferia de Salvador (Bahia), procurei criar minhas próprias oportunidades, dar a oportunidade sendo a oportunidade. Nesse cenário desequilibrado de Brasil-colônia, eu tive que buscar alicerces para ser ‘santo’ dentro de uma comunidade pejorativa. E como ser empreendedor aqui? Não me fazendo de vítima. O caminho é transbordar, prevenir, intervir sendo igual, equânime e equilibrado; porque é a educação que vai diminuir a pobreza. Todos nós temos uma riqueza. E vamos embelezar o mundo sendo estrelas na constelação!”

Café com reflexões e provocações

Nesse primeiro dia de evento, realizamos duas rodadas de diálogos em pequenos grupos. O entusiasmo das conversas foi interrompido pelo tempo determinado, mas isso não impediu que houvesse a criação de novas conexões entre os participantes dos mais diferentes territórios do Brasil.
Em um dos mais de 50 grupos formados, Cristina de Souza Lira Gameleira, trouxe sua contribuição de Maceió, Alagoas: “Sou grata pela formação humana que a Economia de Francisco me proporcionou. Estou há 26 anos na Universidade Federal de Alagoas, onde levei a Economia de Comunhão como objetivo de estudo, o que só me deu a certeza de que é possível diminuir a pobreza por esse caminho. Além de pesquisar, criei uma ONG com o objetivo de dar autonomia à população carente por meio da agroecologia. É possível romper as armadilhas da pobreza.”
Já em um outro grupo, houve muita partilha de informações entre pessoas que já estão familiarizadas com a Economia de Francisco com outras que passaram a conhecer agora. Enxergaram juntas o desafio de ‘viralizar’ o movimento, em prol de transformações sociais, conforme relatou na plenária Jadir Mauro Galvão, de São Paulo.
Ao retornarem à sala principal, observamos olhos brilhantes e curiosos com o que temos pela frente. Ouvimos partilhas afetuosas e propositivas, no sentido de não deixar apagar a chama que está acesa em todos para trilhar o caminho inspirado pelo Papa Francisco.
Na finalização do encontro, Maria Helena retoma o intuito do movimento, e verbaliza uma das mensagens do Papa: “Ele é admirador da potência do mercado vivido a partir de virtudes. O capitalismo é sustentado pelas instituições e pela cultura; nosso esforço deve ser no sentido da mudança de uma cultura que não está humanizada”.
Dia 20 tem muito mais!
 
 
 

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