Com o intuito de abordar as temáticas do evento Economia de Francisco e propiciar um espaço de diálogo sobre novas economias, a Associação Nacional por uma Economia de Comunhão (Anpecom) lançou um ciclo de cinco encontros virtuais intitulado “Conexão Economia de Francisco-Brasil: juntos por um novo pacto global”.
A primeira conexão reuniu dois líderes mundiais do ecossistema de negócios de impacto social: Luigino Bruni, coordenador internacional da Economia de Comunhão, e Pedro Tarak, um dos cofundadores do Sistema B, um movimento global de certificação de empresas que atuam com o propósito de solucionar problemas socioambientais. A conversa foi mediada pela empreendedora e inovadora social, Thaís Corral, e teve como título “O papel do lucro e da vocação em negócios de impacto social”.

Uma inspiração para quem sente a vocação para  a uma nova economia

Como o evento foi parte integrante de um percurso de diálogo que deverá culminar com o evento Economia de Francisco (EoF), em novembro, Luigino Bruni resgatou na vida de São Francisco de Assis, personagem inspirador da EoF, como o santo entendeu a sua vocação por uma nova economia.
De família abastada, da então agitada cidade de Assis, Francisco, recebeu um “chamado” divino, em pouco tempo rejeitou os bens do seu pai e logo compreendeu que aquela economia não era dele. “Francisco era chamado a uma outra coisa, ao que para ele se tornou uma ideia fixa, uma obsessão: a economia do não possuir nada. É uma economia diferente”, explicou Bruni.
De fato, a ideia de uma economia diferente é justamente o apelo do Papa Francisco aos jovens economistas, estudantes da área econômica, empreendedores e promotores de mudanças sociais convidados para o evento.
Nesse sentido, movimentos como a Economia de Comunhão e Sistema B são exemplos concretos para esses jovens de como conciliar a vocação por uma nova economia com o trabalho concreto nas empresas, ressinificando o papel do lucro. “Lucro e vocação quando estão juntos, transformam tanto a vocação quanto o lucro”, completou Bruni.

Sistema B: vocação ao triplo impacto

O diálogo continuou com o cofundador do Sistema B, Pedro Tarak. Carismático e envolvente, Tarak explicou aos participantes que as empresas certificadas pelo Sistema B atendem basicamente a três características: o propósito socioambiental como uma vocação da empresa, que deve ser protegido juridicamente; a adoção de uma ferramenta que permite medir a relação da empresa com seus colaboradores e como ela trabalha para reduzir as desigualdades entre quem ganha mais e quem ganha menos; e uma governança corporativa que leve em conta as pessoas e o meio ambiente.
O Sistema B entende que é preciso avaliar as empresas em questões sociais e ambientais com o mesmo rigor com o qual são avaliadas financeiramente.
Para exemplificar, Tarak contou a como a vocação de um empresário transformou uma empresa no Paraguai.
O fundador da Guayaki – empresa de erva-mate orgânica – ainda pequeno presenciou o desmatamento da Mata Atlântica da região e como a expansão agrícola, com seus maquinários, prejudicava camponeses e indígenas. De acordo com Tarak, ele chorava e dizia “quando eu for adulto vou fazer com que a mata volte”.
A experiência pessoal se transformou em um propósito e o empresário fundou a Guayaki com duas missões: regenerar a Mata Atlântica e a gerar 1.000 empregos decentes para as comunidades locais.
A cadeia produtiva da empresa engloba a compra mate de comunidades indígenas e cooperativas que cultivam a erva à sombra de espécies arbóreas nativas, permitindo a conservação das áreas naturais e a regeneração daquelas degradadas. A empresa remunera essas comunidades pagando entre 40% e 60% a mais que o valor de mercado. E até agora já regenerou 60 mil hectares de Mata Atlântica.
Em seis anos, as ações da empresa cresceram 600%. “Esse crescimento não foi resultado da especulação de valor, foi resultado da criação de propósito”, enfatizou Tarak.
Este é apenas um exemplo. O movimento tem hoje mais de 500 empresas certificadas na América Latina, todas comprometidas com o triplo impacto: social, ambiental e econômico.
“Estamos fazendo uma transição para ter o ser humano ao centro. Quanto mais obsessão pelo lucro, mais nos empobrecemos. Necessitamos de uma nova identidade comercial”, concluiu Tarak.
Assista a transmissão completa:

 

Saiba mais sobre o Economia de Francisco

A Economia de Francisco é um convite do Papa Francisco, líder da Igreja Católica, a jovens economistas, empresários e pesquisadores do mundo todo por um novo pacto global que proponha uma mudança nas estruturas do sistema econômica e na cultura que o sustenta. O Papa Francisco tem dedicado grandes esforços para denunciar o “estado patológico da economia mundial”, nos convidando à implementação de um novo modelo econômico. O nome não é uma referência ao Papa, mas a São Francisco de Assis que viveu com coerência sua vida cristã também no plano econômico e social.
O Economia de Francisco previa um encontro presencial em Assis, na Itália, no início de 2020. Como consequência do cenário de pandemia, o evento principal acontecerá em novembro, agora virtualmente.
 

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